Em 1880, Machado de Assis inovou entre os literários brasileiros com a obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. No livro, o defunto, Brás Cubas, narra em primeira pessoa sua própria história. Os temas visitados por Assis (como a escravidão) e a quebra da trajetória linear da narrativa, na época, chamaram a atenção do mundo!

Mesmo sendo um clássico da literatura, o livro de Assis não é a dica de leitura do dia do Digaí…

 

O que o Formsrping pode nos ensinar agora?
O que o Formsrping poderá nos ensinar agora? Cap Watkings conta.

 

 

Então, vamos voltar aos anos 2000, mais precisamente há duas semanas, quando um novo relato pós-morte chamou a atenção… O designer de interfaces, Cap Watkins, escreveu o seu Postmortem sobre o Formspring mostrando o que, na visão dele, foi feito de errado ao longo dos quase quatro anos de vida da startup. Tá, o Formspring (ainda?) não morreu, mas de acordo com o próprio blog oficial está em coma, respirando com ajuda de aparelhos e com os dias contados.

 

formspringXask.fm
Gráfico compara as buscas no Google por Formspring e o Ask.fm (concorrente)

 

O postmortem é um processo de levantamento de lições aprendidas do projeto. É com essa atividade que evoluímos e entendemos onde erramos, para não repetirmos mais. É também quando identificamos onde acertamos, para criarmos um conjunto de boas práticas. Watkings resolveu focar nos erros, o que pra mim é ainda mais valioso, pois poucos empreendedores publicam as suas falhas por ai. Da narrativa do designer, é possível tirar lições interessantes:

 

Não tenha apego a cenários passados. Mudanças precisam ocorrer.

Segundo Watkings, um dos maiores problemas que eles enfrentaram foi o tempo gasto para manter uma feature que estava fadada a sumir: o anonimato. Essa funcionalidade ajudou o Formspring a registrar bilhões (bilhões!) de perguntas em pouquíssimo tempo. Era só escolher o usuário e mandar a pergunta, não era preciso nem logar. Por outro lado, o número de usuários não crescia no mesmo ritmo dos acessos e muito conteúdo inapropriado (racista, pornográfico, preconceituoso…) manchava as interações da rede.

A equipe do Formspring passou meses trabalhando para suavizar os impactos negativos das mensagens anônimas, mas pouco adiantou. Hoje, Watkins acha que o caráter anônimo da rede poderia ter sido removido e todo o tempo gasto com “remendos” ter sido utilizado para criar novas funcionalidades.

 

Crie um serviço transparente

 

A equipe do Formspring não gostava do modelo público de seguidores do Twitter. Para eles, saber quem te segue cria uma pressão social desnecessária para que você siga quem te seguiu. É uma reflexão interessante, #quemnunca seguiu de volta aquele colega do trabalho mesmo sem ter muito interesse no conteúdo que ele publica nas redes?

No Formspring, inicialmente, você não sabia quem te seguia. Apesar do motivo ser coerente, foi um tiro no pé! O Formspring te dava um microfone, mas não mostrava quem era a sua platéia. Os usuários da rede queriam compartilhar mais de si com seus amigos, mas o “modelo opaco” de seguidores não permitia saber se esse objetivo estava sendo alcançado.

 

“Faça o seu produto, não o dos outros”

 

Para Watkings, o maior pecado do Formspring (e da maioria das empresas) é seguir o que é tendência, sem olhar para as reais necessidades do seu público. Eles passaram muito tempo desenvolvendo estratégias parecidas ao do Facebook e do Twitter. Na época do boom do Instagram, meses foram gastos para permitir que os usuários também pudessem expressar perguntas e respostas através de fotos.

Todas essas ações foram tomadas como medidas desesperadas para manter o ritmo de crescimento da plataforma, que naturalmente estagnou em um determinado momento. A lição é: execute a visão do seu produto de acordo com o objetivo dos usuários. Faça seu produto ou serviço para os seu público; tentar agregar todas as tendências pode criar um Frankstein que não atende as necessidades de ninguém. Foque sempre no problema que você quer resolver e deixe o resto de lado.

 

Aposte em pequenas mudanças

 

Faça alterações pequenas e incrementais no seu produto ou serviço. Mudanças pequenas, em geral, são menos dispendiosas e trazem para o usuário uma sensação de evolução constante. Para Watkings, as mudanças pequenas podem ser surpreendentes e apresentar os maiores impactos.
Mudanças gigantescas são difíceis para monitorar o que realmente foi um acerto ou um erro. É complicado comparar o antes e depois das alterações, se você não tem algo correspondente no cenário anterior. Faça como num experimento científico, onde as variáveis vão sendo trocadas a cada etapa.

 

Quando Machado de Assis publicou Memórias Póstumas de Brás Cubas, ele influenciou toda uma geração de escritores brasileiros e de fora. Cap Watkings não inventou o Postmortem, essa prática já existia, mas muitos desses trabalhos de reflexão ficam presos nas próprias equipes e empresas. Espero que o post de Watkings influencie outros empreendedores a compartilhar com a comunidade global também os seus fracassos. O mundo agradece.

 

Errar é humano, mas repetir o erro talvez seja porque alguém não compartilhou o Postmortem.

 

 

Mas sobre qual outro projeto você gostaria que os envolvidos compartilhassem as lições aprendidas? Google Reader? Hotmail? Symbian OS? MSN?

Vou deixar a minha sugestão nos comentários. Não se esqueça de deixar a sua também. Vai que… né? 🙂

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