Minha sobrinha de apenas quatro apenas é viciada em TV. Em dois dias assistiu ao filme Carrossel por nove vezes, pelo Netflix. E queria mais. Deixava o eletrodoméstico da sala, grudava no celular para ver a obra brasileira no YouTube. Sem saber escrever, já domina as técnicas para navegar no smartphone.
Ela é de uma geração em que o touch não é enigma. Os dedos são programados para encontrar o que agrada. Nem me assusta vê-la com o aparelho e o dedinho se movimentando freneticamente. Espantado fiquei, quando ela, com o controle remoto da televisão, escolhia o que iria assistir enquanto o celular recuperava a bateria.
Normal a menina saber o horário da porquinha Peppa, porém, Estela disse que adora ver o arquiteto Maurício Arruda fazendo decoração no GNT, no programa Decora. Não entendi o que a atraía nesse conteúdo tão adulto.
Apesar da imaturidade, Estela me provocou uma reflexão: como as emissoras de TV vão conquistar essa geração on demand que prefere a individualidade de um smartphone, mas que pertence essencialmente à uma sociedade imagética, do domínio do audiovisual? É o que tentei descobrir com a pesquisa a seguir. Confira.
Era on demand
Estamos na fase do on demand. Da decisão de consumo no momento em que desejamos consumir. O modelo de grade de programação das TVs está com os dias contados. Certamente, haverá uma transformação intensa nos próximos anos, já que ainda é um mistério o que virá. A fase também é de testes, de ousadias, de análises do comportamento do sujeito que se comporta ora como espectador, como telespectador, ora como internauta, como prosumer.
O papel do YouTube
O YouTube foi um precursor e outras ferramentas de streaming foram surgindo com a melhora da tecnologia. Os canais de TV foram acompanhando as inovações às suas maneiras, com medo da perda da audiência, medida pelo IBOPE.
Certamente, a pergunta era “como lidar com a fuga de espectadores, que se reuniam em frente à televisão, para os conteúdos da web? ”. A implantação da TV Digital no Brasil era inevitável. Os recursos que ela traz são infindáveis. O modo de consumir televisão também mudou.
Emissoras de sinal aberto e a cabo tiveram que arriscar. Afinal, o telespectador é ao mesmo tempo internauta. Geração Multitasking que não pode ser classificada apenas pela juventude de seus integrantes precursores. Para navegar pelos suportes digitais, a idade não é fator limitante.
Adaptação das emissoras
Pouco a pouco, fomos apresentados a conteúdos feitos nos estúdios, muitas vezes exclusivos, nas pequenas telas. De um lado as megas TVs. De outro, aparelhos de poucas polegadas, carregados para todo lado.
O sofá perdeu importância na casa, pois a mobilidade virou o estímulo comercial das marcas. Precursor no assunto no Brasil, o SBT lançou um aplicativo mobile para disponibilizar sua programação de forma mais acessível e intuitiva.
Na cola de Silvio Santos, os canais foram lançando seus apps: GNT Play, HBO GO, Telecine Play etc,etc, etc. A Globo também fez seu Globo Play e mostrou como é possível deslocar a audiência e provocar uma transformação na publicidade.
Mais trabalho para as Agências
Agências tiveram que fazer o que mais sabem: criar. Porém, com mais inovação. Outro público está consumindo no mercado, por meio da interatividade, dos mecanismos de busca, e até no excesso de mensagens enviadas pela ferramenta de remarketing.
O conceito de massa teve que ser deixado de lado nas estratégias para que o foco fosse o nicho. Não há desconhecidos nas redes sociais, nas trocas de vídeos no WhatsApp nem no Snapchat. Se antigamente havia um chutômetro para definir quem era público, atualmente, os recursos do marketing digital já definem quem gasta com o quê.
Em busca da audiência
As emissoras estão em período de caça, assim como o mundo está em busca de pokémons. Os departamentos estratégicos estão caçando a audiência, tentando entender por onde ela está espalhada. Aonde está escondida ou o que está fazendo.
Cada clique é uma resposta às pesquisas que nem sabemos que estamos respondendo. Provavelmente, o game de sucesso é um recurso para localizar o consumidor ideal para determinado produto. Seja na televisão, seja de outros mercados.
Mesmo com as incertezas, já temos casos de sucesso, pois a aposta de migração de plataforma foi a escolha única. É só acompanhar o número de inscritos em vários canais de youtubers famosos. Eles têm mais público que muitos programas de TVs abertas.
Maiores cases de sucesso da geração on demand: Os YouTubers
Os youtubers viraram estrelas além da internet dentro da geração on demand. De olho em suas visualizações, emissoras estão produzindo conteúdos com eles e para eles.
É uma maneira de aproximação com um público infantil e jovem que vê o eletrodoméstico como um trambolho, mas que é altamente ligado ao audiovisual.
Até dizem que não veem TV, apesar de quase não sobreviverem sem a imagem em movimento. Ou alguém aí ainda não viu um vídeo hoje?
Interatividade: palavra de ordem
Essa história é sem fim. É hipertextual. Com várias conexões para que tiremos lições sobre o futuro. É uma dica para empresas que apenas desejam um modesto site para que o usuário encontre um contato de telefone. A ordem é troca, é conversa, é interatividade.
É a experiência das ferramentas digitais, é o vocabulário criado por uma geração que está modificando a hegemonia da mídia tradicional.
É a queda de modos de fazer para o surgimento do ousado, da criatividade, da inovação constante.
É o olhar atento às rápidas transformações, a humildade para se fazer benchmarking e usufruir do sucesso daquilo que pode trazer benefícios empresariais.
Minha sobrinha ditou moda. E é com ela que quero aprender sempre. Em pouco tempo, ela pertencerá à outra geração, talvez a T, de Transformation.
Você está preparado para sair da zona de conforto e mudar de canal? Você está se preparando para deixar de ter uma base sólida e estruturada, para se tornar um Digital Transformation?
Em breve, os telejornais vão dar essa notícia com mais ênfase, pois as emissoras já estão nesse caminho. Pense na sua conversão às oportunidades digitais para ser personagem dessa história e compartilhe com a gente a sua opinião sobre o on demand nos comentários.