Está sendo bem interessante acompanhar este momento em que o Brasil está vivendo, com as manifestações eclodindo em todos os pontos do País e os protestos sendo organizados através das plataformas digitais de redes sociais. Podemos notar claramente um despreparo dos governantes em relação à revolução das mídias promovidas pela Web 2.0 e um pleno desconhecimento sobre o comportamento da Geração Internet, ou Geração Y. A todo momento, assistimos aos políticos, através das mídias tradicionais, principalmente por intermédio da imprensa formal, apelando para reuniões com líderes dos movimentos. Procura-se de qualquer jeito apontar responsáveis por incitar as vozes que estão sendo projetadas na internet – não só em redes sociais, mas também em sites e blogs. Em diversos momentos, a imprensa elege alguns coordenadores, organizadores ou demais termos utilizados indiscriminadamente, pensando-se em uma hierarquia organizacional, para se pronunciar.
Mas não é tão difícil entender de onde vem essa cultura de procurar lideranças. Antes deste junho de 2013, os protestos eram promovidos por grupos ou entidades representativas (organizações com ou sem fins lucrativos, sindicatos, conselhos, uniões estudantis, associações…), com ou sem apoio de partidos políticos, e com interesses pontuais, isto é, havia uma pauta de reivindicação muito bem definida. Na época das Diretas Já, nem se falava de internet no Brasil. Quando das manifestações contra Fernando Collor, que pedia o impeachment do então Presidente da República, a internet no País era utilizada basicamente por órgãos do governo e instituições de ensino superior.
Como era feito, então? Grupos, entidades representativas ou partidos políticos convocavam a participação popular através de panfletos e jornaizinhos, distribuídos ou enviados por mala-direta; de carros de som; de entrevistas ou releases encaminhados à imprensa; de comerciais veiculados nas emissoras de rádio e tv; de telefonemas; e de boca a boca. Os responsáveis pelas manifestações simplesmente informavam ao povo o que pensavam e o que desejavam, na tentativa de entrar em acordo com os gestores públicos ou privados. Hoje, porém, com o ápice das plataformas digitais de redes sociais, que estão ao alcance de quase todas as camadas da sociedade, a conversa, que começou vertical, via Movimento Passe Livre (MPL), tornou-se horizontal e milhões de brasileiros passaram a se manifestar abertamente contra o atual sistema de gestão pública, inclusive também contra os partidos políticos – o que deixou muita gente atônita. Administradores, sociólogos, antropólogos, filósofos, historiadores, jornalistas, economistas… ninguém está entendendo mais nada e começam a buscar agora a compreensão desse novo fenômeno, muitas vezes em uma tentativa desesperada de dar explicações para alimentar a imprensa formal com as razões sobre esse comportamento da população. Observação: não vou entrar nas discussões sobre especulações em torno de manobras politicas de manipulação da massa para um posterior golpe. O ponto aqui é outro.
E de que forma a Web 2.0 contribuiu para horizontalizar as manifestações do pensamento coletivo? Entregando as ferramentas de criação para a massa. Nessa ainda atual fase da internet – a Web 3.0 já começa a dar suas caras por aí -, todo mundo pode externar seu pensamento livremente – também não discuto aqui os filtros e possíveis censuras de plataformas como o Facebook. O público, que era apenas um alvo, passou a criar, compartilhar e alimentar as mídias digitais. De mero espectador, transformou-se em gerador de conteúdo. Qualquer um com um mínimo de conhecimento das ferramentas disponíveis na internet pode criar um blog, uma fanpage ou um evento no Facebook. E nessa era da colaboração, onde postamos os comentários e imagens com mais força de recomendação do que as marcas, aliada à popularização dos dispositivos móveis com câmeras de média e excelente resolução, contribuir para “despertar o gigante adormecido” foi apenas uma questão de tempo. Exemplo: a fanpage Mídia Ninja, que conta com a colaboração dos manifestantes nas ruas para compartilhar as imagens em tempo real nas redes sociais. Todos passaram a ser repórteres fotográficos.
Pauta? O descontentamento com o sistema gerou uma onda de reclamação generalizada. Cada um colocou para fora aquilo que mais lhe incomodava. Encontros para as manifestações? Qualquer um pôde agendar, por isso que os governantes e a imprensa ficaram doidinhos atrás dos responsáveis e, após tentativas frustradas, elegeram um ou dois para centralizar o diálogo.