Escrever sobre algo que ainda está em construção traz enormes desafios, especialmente em se tratando de tecnologia e seus impactos nas pessoas e nos processos organizacionais. Mas ao aceitar esse desafio de contribuir com o Digaí decidi trazer para esse espaço uma discussão que vem sendo tocada nas discussões acadêmicas, que envolve a compreensão de como os conceitos de web 2.0, ou web social, vem sendo apropriados (absorvidos) pelas empresas, governos e organizações não governamentais na busca de uma maior aproximação com seus públicos, o que também tem tudo a ver com marketing digital.

 

Com esse objetivo maior em mente, busquei refletir sobre como melhor poderia organizar as discussões que aqui serão incentivadas, pois como fenômeno social e tecnológico, discutir essa temática envolve a construção uma teia com várias dimensões. Assim, nesse primeiro artigo optei por apontar, desde já, os caminhos que essa coluna seguirá, na expectativa de que cada tema aqui trabalhado venha a servir de estímulo para o debate com meus leitores, ou será que já os posso chamar de co-criadores?

 

Essa coluna terá três ramos centrais: as pessoas, os processos e as tecnologias, tudo isso no contexto das plataformas de redes e mídias sociais e sua utilização pelas organizações. A título de exemplo, esses ramos podem trazer as seguintes discussões:

 

* Quanto às pessoas, reflexões sobre privacidade, intenção de uso, reciprocidade, empoderamento, etc.;

* Quanto aos processos organizacionais, discussões sobre marketing, recursos humanos, gestão do conhecimento, inovação, etc.;

* Quanto às tecnologias, o uso de plataformas colaborativas como as redes sociais, as wiki, os blogs, etc.

 

Aproveitando esse artigo de abertura, vamos traçar um panorama do que foi, ou melhor, o que ainda é a web 1.0, tanto para as pessoas como para as organizações. Sim, a web 1.0 ainda tem muito espaço na Internet, pois muitas organizações ainda estão dando seus primeiros passos na web 2.0.

 

Inicialmente cabe destacar a diferença entre Internet e web, pois enquanto a Internet é uma rede mundial pública de computadores interligados por onde correm os dados, a web é a teia de documentos multi e hipermídia que é hospedada em sites de pessoas, ONGs e empresas. Contudo, na web 1.0 esses documentos só permitiam uma comunicação unidirecional, ou seja, os produtores de conteúdo (primordialmente empresas e jornais) criavam suas “brochuras online” e as disponibilizavam para consulta por clientes e demais públicos.

Mesmo assim, a Internet e a web crescem com velocidade bem maior que qualquer outra inovação, especialmente a partir do final dos anos 1980. Com o avanço da tecnologia, a ampliação da velocidade de transmissão e a maior difusão de acesso, cada vez mais pessoas estão conectadas e interagindo de forma virtual (LIMEIRA, 2003). Mas vale a pena lembrar que o virtual não se opõe ao real, e sim ao atual, pois o virtual não existe em ato, mas em potência. Como afirma Lévy (1996, p.24), o “virtual usa novos espaços e novas velocidades, sempre problematizando e reinventando o mundo”.

 

A partir dessa interconexão mundial de computadores surgiu o ciberespaço, por onde flui esse universo oceânico de informações que permitiu o surgimento da cibercultura, que é um conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), práticas, atitudes, modos de pensamento e valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço. Desse modo, afirma Lévy (1999), é possível perceber que o ciberespaço acompanha, traduz e favorece uma evolução geral da civilização humana.

 

A nosso ver, ao longo das últimas décadas foram então se costurando as bases para o surgimento do que viria a se tornar a web social. Graças à sua escala global e capacidade de interação social (LAINE, 2006), o ciberespaço passou a permitir que os mais variados processos de troca de informação começassem a ocorrer (LÈVY, 1999), “independente da localização geográfica e dos vínculos institucionais dos indivíduos, constituindo comunidades virtuais baseadas em afinidades de interesses e em processos de trocas de saberes entre os participantes” (SZABÓ; SILVA, 2007, p. 43).

 

Referências

LIMEIRA, Tânia M.V. e-Marketing: O Marketing na Internet com Casos Brasileiros. São Paulo: Saraiva, 2003.

LÉVY, Pierre. O que é Virtual? 5ª ed. Rio de Janeiro: Editora 34, 1996.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Cortez, 1999.

LAINE, M.O.J. Key Success Factors of Virtual Communities. 2006. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Helsink – Finlândia. Acesso em: 02 maio 2010. Disponível em:  http://users.tkk.fi/molaine3/ml_mastersthesis_310506_public.pdf

SZABÓ, Inácio; SILVA, R.R.G. Informação e inteligência coletiva no ciberespaço: uma abordagem dialética. Revista Ciências & Cognição, v. 11, pp. 37-48, 2007.

 

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