Sim, você leu certo. Eu escrevi pós-digital mesmo. E não foi por acaso. Hoje eu venho resenhar minha experiência ao ler a obra do Walter Longo “Marketing e Comunicação na Era Pós-digital”. Sei que é difícil entender de início o conceito de “pós-digital” enquanto o mundo grita por digital o tempo todo, mas vamos avançar e entender um pouco do contexto histórico para nos situar melhor.
Tomemos a Revolução Industrial, durante pós guerra, como ponto de referência para uma era cheia de transformações aceleradas. Naquela época, o avanço tecnológico causou choque cultura de difícil adaptação. A sociedade, que antes vivia de artesanatos, agora estava sendo apresentada à manufatura. Esse período também foi marcado pela construção de hierarquia empresarial que espelha muitas das relações de trabalho que ainda vivemos hoje.
No entanto, naquele momento ninguém falava sobre a tal “revolução industrial”, tentava-se a adaptação a qualquer custo, mas não havia a consciência das alterações que a sociedade estava sofrendo. Segundo Longo, “durante períodos revolucionários se torna mais difícil perceber que fazemos parte deles”.
O processo de globalização vivido pelo mundo democratizou o acesso à tecnologia, que antes era um privilégio de poucos. A era digital trouxe grandes avanços ao permitir que a informação estivesse ao alcance “de todos”. Essa cultura global favoreceu a inclusão digital em países emergentes, aumentando a qualidade de vida das pessoas que agora tinham acesso a uma educação que não tivera antes.
O que é a Era Pós-digital?
Pois bem, então o que seria a tal era pós-digital? Quando ela vai chegar? Será o apocalipse tecnológico?
Walter afirma que já estamos vivendo o pós-digital. Ele explica que a presença da tecnologia digital hoje é tão ampla e onipresente que, na maior parte do tempo, nem notamos que ela está lá. Tal como a eletricidade, nós só percebemos a sua existência quando falta. Já superamos o mundo analógico, é difícil imaginar boa parte do que fazemos hoje sem a presença da tecnologia digital. Atualmente não há diferença ente mundo digital e mundo real, entre on e offline. Está tudo junto.
Entendido o conceito da nova era, vamos entender o quais são as novidades e características que ela traz consigo, como e porque precisamos nos adaptar e quebrar paradigmas para viver esse novo começo.
O momento Tesarac
O termo “tesarac” foi criado pro Shel Silverstein e serve para nomear momentos em que a sociedade é tomada pelo caos e desorganização até o surgimento de uma nova ordem que a recomponha. E esse talvez seja o melhor termo para nomear também o momento em que estamos vivendo. Um ponto de partida de uma era de grandes revoluções, mas com paradigmas e certezas que nos seguram ao passado.
Longo explica:
“É uma espécie de dobra no tempo, em que não adianta olhar para o que fizemos nem tentar adivinhar o que faremos. Em momentos tesarac, o que existe já não vale mais, mas o que passa a existir também não substitui o anterior em todas as dimensões. É como se primeiro precisássemos destruir para depois construir.”
Por que quebrar paradigmas?
Se é preciso “destruir para construir”, comecemos pelos nossos paradigmas. Assim como foi na transição do som para a imagem com a chegada da TV, é com a junção entre mundo on e offline. Existem novas regras e prioridades para serem estabelecidas, e claro, novos paradigmas.
Não dá para comunicar o futuro baseado em conceitos passados. É preciso esquecer antigos rituais e se ajustar a uma nova realidade. Existe um agravante ainda maior para os profissionais de marketing e comunicação que se respaldam em conceitos que não valem mais: eles são responsáveis por mediar a relação de empresas com o seu target e, enquanto alguns profissionais ainda olham para o passado, esse público já está vivendo na era pós-digital.
“Fica cada vez mais claro que enquanto as empresas e anunciantes estão subindo o edifício dessa nova era pela escada, os consumidores estão subindo pelo elevador.”
Do que é feito esse novo começo?
Apesar de ser um novo conceito e uma nova era, o pós-digital já possui características próprias. São seis macrotendências que reformulam esse novo começo.
São elas:
Efemeridade
É a capacidade de se renovar em ciclos cada vez mais curtos. É possível observar o surgimento de uma marca que domina o mercado e desaparece completamente em um período inferior a uma década. Para se adaptar a efemeridade do mundo pós-digital as empresas precisam agir com antecipação e manter a velocidade em suas ações e decisões.
Mutualidade
A mutualidade diz respeito a habilidade cada vez maior das máquina se comunicarem entre si, uma tendência fortalecida pela internet das coisas. Esse movimento deve inspirar a capacidade criativa humana e valorizar o ROL (return of learning) sob o ROI (return of investment).
Multiplicidade
Trata-se de ver o mercado de maneira holística. Hoje é inútil pensar o mercado por ferramentas (impresso, eletrônico ou digital) e ignorar o organismo como um todo. É preciso dividir por função ou processo para entender e acompanhar melhor a comunicação cada vez mais rápida, interativa e caótica.
Sincronicidade
Entender que as pessoas não são, elas estão, é o ponto de partida para acompanhar a constante alteração de hábitos que estamos vivendo. Afinal, diante de um mundo cheio de transformações, se as pessoas mudam, as abordagens do mercado devem acompanhar de maneira sincronizada.
Complexidade
A complexidade trata-se da importância de orquestrar as diversas atividades de modo que exista um nexo entre elas. É conectar ações para que possam formar um todo.
Tensionalidade
A união de tensão e irresistibilidade compõe uma equação que resulta em uma personalidade marcante que vai se destacar em meio a uma multidão.
“O neologismo significa a capacidade de incluir aspectos de tensão à personalidade coesa de uma pessoa ou marca.”
Esses foram apenas alguns insights presentes na obra do Walter Longo. Certamente um livro que tem muito a acrescentar ao profissionais que trabalham com comunicação, marketing, publicidade e afins. Uma leitura importante para compreender o que é a era pós-digital e como funciona o momento de transformações e adoção de novas posturas que estamos vivendo.
Após tantas consultas, o meu livro já virou um oráculo e já estou com vontade de ler novamente, mas agora com uma visão macro da temática. Leitura recomendada! 😉