Neste artigo pretendemos expor ideias que combinem com o momento de um novo ano, uma necessidade de novas diretrizes, vislumbrar possibilidades. Faz-se necessário usar binóculos para enxergar um possível horizonte. E um caminho provável do Marketing – online e offline – será o impacto social.

Marketing e Impacto Social
CC Beth Kanter Flickr

Imagine…

Imagine uma realidade paralela à nossa. Neste mundo alternativo, as organizações são os principais desenvolvedores de benefícios e responsáveis por solucionar os grandes problemas da Humanidade (já ouvimos esse discurso na nossa realidade, certo?).

Na realidade citada também tivemos o mesmo problema dos refugiados da guerra na Síria. Esta realidade tem grandes semelhanças com a nossa, porém, no mundo paralelo, está a pleno vapor um Plano de Ação de uma força tarefa formada por dezenas de empresas, gigantes e pequenas, para solucionar da melhor maneira possível a crise de refugiados.

Em uma ponta, duas gigantes da farmacêutica atuam em infra-estruturas que recebem os refugiados e tratam qualquer doença, em um local – praticamente uma pequena cidade – construído pela incorporadora mais famosa por projetos arrojados da Europa. O slogan desse local é: todos pela dignidade.

No complexo, as pessoas são cadastradas, avaliadas e podem escolher se desejam ser movidas para trabalhar em suas especialidades ou se desejam formar-se em atividades que podem até mantê-los em casa, atuando na solução de uma guerra civil horrenda. Quem é a responsável por essa Gestão de Pessoas? Uma nova empresa de RH que deseja tornar-se conhecida pelo jogo de cintura.

Grandes vetores por todos

Todos agindo juntos
Stock Unlimited

Dois bancos que desejam fundir-se entregam uma poupança que pode ser acionada mensalmente para aqueles refugiados que se manterem dentro das regras. Como uma renda inicial para que as famílias comecem a se estabelecer, para onde quer que sejam designadas.

É fácil locomover-se pelo enorme complexo: um consórcio de 3 gigantes do setor de Logística mantém um intricado sistema de trens e carros elétricos, que está sendo ampliado para atingir todos os países da Europa e ser usado por toda a população em alguns anos.

No mar, uma nova empresa de veículos anfíbios reduziu a mortalidade na travessia de refugiados a zero. Em 2 anos o projeto do veículo recebeu mais de 250 upgrades aprendidos em diversas situações extremas de superlotação e resgate. Todo o projeto foi financiado de forma coletiva e em 5 anos pretende ser implementado em outros 100 pontos de travessia críticas por todo o planeta.

Desconectando…

De volta a nossa realidade, pôde tangibilizar que grandes resultados para a reputação de uma empresa ao atuar de forma genuína e solucionar aspectos – em que se é especialista – de uma crise como essa? Por que não temos esse tipo de atuação das empresas na nossa realidade?

Arriscaria dizer: AINDA não temos esse tipo de atuação. Vamos refletir alguns pontos que nos farão vislumbrar na nossa realidade o impacto social que as empresas causarão no futuro?

Para que servem as utopias?

Não é possível experimentar novos caminhos empíricos, estabelecer o que consideramos que está dando certo ou errado sem um objetivo audacioso: uma meta – porque não dizer – uma utopia. A realidade do aprendizado realizado no caminho provavelmente cristalizará um outro cenário, mas, mais ou menos, próximo ao que estabelecermos como ideal agora, no presente.

A utopia serve para direcionar nossas vontades, nossas intenções. Tem um poder grandioso apenas no fato de que contribui para ajuste fino de sinergia entre os agentes de um mesmo grupo que se agrega sob uma mesma utopia.

construir juntos
StockUnlimited

O Futuro

Vamos então aproveitar o início de um novo ciclo, o ano novo, para deixar um cenário de crise e aprendizado com o que fizemos de errado pra trás e começar a pensar em novos cenários?

Temos grandes pistas ao redor do planeta para entender o Marketing que se fará em um futuro próximo, miremos em apenas 5 neste texto:

  • a crise de gestão do modelo de relações atual
  • fatos e ações de organizações que estão gerando reações negativas
  • o despertar do senso coletivo para o bem
  • inovações na forma de consumir e relacionar
  • o crescimento do setor 2,5

Crise de Gestão

Ok, batemos nesta tecla em vários artigos, mas agora é hora da lição-aprendida. A crise é um fenômeno importante que escancara o que não queremos aceitar: nossa ingerência generalizada nos fez sangrar nos últimos anos.

Sustentamos a ideia dos anos 70/80 de que basta criar uma imagem de organização respeitosa para abrir as portas e deixar que os clientes venham a nós, tendo a honra de usar nossos produtos e serviços.

A necessidade de relacionar de verdade com os clientes e mudanças profundas de perfil de consumo revelou estruturas incapazes de se adaptar ao longo dos tempos. Tais casas desarrumadas são cenários perfeitos para crises financeiras, de valores, perda de capital humano e ativos. É como uma imensa bola de neve desgovernada.

Vamos ilustrar esse ponto em um vídeo do Professor Vicente Falconi nesse assunto? Veja o que ele tem a dizer sobre Gestão, qualidade, mudanças em processos e essa consciência do que está errado.

Reações negativas

2016 foi um ano marcado por repercussões negativas para eventos grotescos advindos de ingerência, a grosso modo: impeachment, ocupações de escolas, desabamento de ciclovia, celular explodindo, empresas explorando tragédia de time de futebol, tratamento desumano a refugiados.

Isso mostra duas coisas: o brasileiro está disposto a agir de forma organizada em reação a um fato e ele se importa – e muito – com o tratamento dado ao seu par. Mesmo que de forma desigual, trôpega ou equivocada, o apelo do bem coletivo está ativo e de forma cada vez mais contundente.

Desastre para o Marketing

Imagem arruinada
CC Flickr Ryan Mcgilchrist

Já pontuamos como ignorar o fator humano pode ser desastroso em outro artigo. Façamos o contrário: usemos como pista indicativa de que o Marketing do futuro terá mais que nunca o lado humanitário, de bem coletivo nos focos das ações.

Mais que dizer que se importa, mas agir para alterar realidades de forma positiva com o mesmo esforço dedicado à expandir os lucros. A delicadeza no tratamento será lugar comum; serviços e produtos resolverão, protegerão e criarão conforto coletivo.

A empresa que se descolar dessa realidade pode enfrentar índices de rejeições que hoje não são ameaças, mas e no futuro? Trabalho escravo, usar cobaias animais, componentes que lesam a camada de ozônio, nutrientes que fazem mal à saúde… Percebe como alguns fatores já fazem parte do bom senso coletivo?

Senso coletivo para o bem comum

Você já ouviu falar de financiamento coletivo, certo (KickStarter, Kickante)? E sites com petições (Avaaz, Change)? Se não, saiba que há um verdadeiro movimento baseado na maior riqueza que temos: patrimônio humano. Uma ideia particular se torna uma vontade coletiva.

Esses sites permitem que, no primeiro caso, objetos, obras de arte, projetos e ideias se tornem reais. As pessoas que gostam e que apoiam o tipo do projeto apresentado podem comprar cotas ou simplesmente apoiar. No segundo caso, a intenção é direta: alterar as realidades locais.

O projeto das leis anticorrupção, por exemplo, só tomou a proporção que teve pela sua divulgação e adesão de centenas de milhares de brasileiros e estrangeiros.

Reunir e modificar

Em resumo: o ser humano quando usa sua mente criativa para construir, para edificar, é um tremendo agente de mudança. Temos grandiosos números de projetos que começaram com uma pequena boa ideia. Conhece a história de Ryan Hreljac?

Imagine quando for lugar comum empresas com todo o potencial de suas equipes agindo para edificar? Solucionando questões dos clientes, lucrando e mais, fomentando os potenciais da comunidade ao seu redor?

Não se engane. Este movimento não é utopia, ele já começou.

Inovações na forma de consumir e relacionar

Não são apenas empresas com ativos bilionários como o Google que atuam para modificar realidades em setores como transporte, logística ou que direcionam serviços e produtos para gerar impacto ambiental positivo.

Uma ideia pequena e singela pode impactar profundamente em status quo já definido e consagrado, alterando completamente o jogo. Quer ver como estamos consumindo diferente?

  • AirBNB: por que ao invés de uma hospedagem cara em um local desconhecido você não fica num lugar igualmente confortável, mas com anfitriões dispostos a recebê-lo e oferecer uma experiência semelhante à de quem mora no local? Essa é a ideia deste aplicativo.
    Além dos valores mais em conta, você voltará pra casa conhecendo a fundo uma nova cultura e muito provavelmente fará novos amigos. Para os donos de casas que tem espaço ocioso é uma bela forma de fazer sua casa proporcionar renda. O foco, no entanto é a experiência.
  • Ubber: está cada vez mais caro ter um carro no Brasil. Que tal tirá-lo da garagem e usá-lo para caronas em troca de uma boa renda? Quem já andou de Ubber sabe que pode conversar com o motorista e, no caso do autor, até conseguir parceiros de trabalho. A empresa mantém em foco a receptividade dos motoristas, que recebem notas e elogios dos usuários e vice-versa.
  • Hortas coletivas: está cada vez mais crescente esse fenômeno onde pessoas podem tratar a terra e cultivar hortaliças em espaços compartilhados, muitas vezes nos ambientes urbanos próximos. Suprem sua falta de colocar as mãos – e pés! – no verde, ensinam a importância da alimentação saudável aos filhos e – claro – criam amizades baseadas em compartilhamento.

Nos três exemplos, mais uma vez, foco em criar uma ponte tangível de relacionamento, não na resolução simples de problemas, respectivamente, de hospedagem, transporte e alimentação.

Mais e mais o Homem prefere fazer, usufruir,experimentar, informar-se, apreciar, divertir, juntos.

O crescimento do Setor 2,5

Investir na comunidade
Stock Unlimited

Bem, aqui está um dos indícios mais contundentes do que sustentamos neste artigo. Indo além de gerar uma ponte para os clientes em troca de receita, temos todo um novo setor da economia com negócios que, além de conseguir crescimento sustentável duradouro, existem para impactar de forma positiva.

Uma “evolução” das ONGs que muitas vezes são dependentes de verbas estatais ou privadas, o setor chancela apenas como negócios de impacto aqueles que alteram positivamente realidades, tem sustentabilidade escalável e lucrativa e contam com ótima gestão.

Foco na edificação

Diferente das empresas citadas naquela utopia imaginada no início do texto, estas empresas já são criadas para solucionar questões que assolam a humanidade e ainda se manterem independentes, com lucros reinvestidos de forma inteligente e audaciosa.

Se você desconhece este movimento, saiba que em 2015 tivemos a criação, no Brasil de uma Força Tarefa para planejar e implementar a disciplina de Finanças Sociais.

Esta organização, entre outros fatores, é pontual para mostrar a seriedade de um verdadeiro movimento coletivo, baseado nas mesmas ideias de agregar e evoluir a sociedade.

Atualmente, considerando apenas o Brasil, temos um verdadeiro ecossistema de startups, aceleradores, investidores, linhas de crédito na casa dos milhões, em uma rede conectada e com fome de desenvolvimento coletivo.

E agora, José?

Há um tsunami de boa vontade, de vontade de mudar, de energia para modificar realidades se formando ao nosso redor. De norte ao sul, leste a oeste, por todo o planeta. Longe de ser utopia, o Homem está moldando os negócios apontando o leme para o desenvolvimento do bem coletivo, de verdade.

Como posso atuar sobre os fatores dentro do tsunami, os problemas da sociedade em que sou especialista, ter uma meta, modificar as realidades e ainda ser bem remunerado por isso?

A questão não é se a sua empresa ou se seu trabalho autônomo será atingido pela onda ou se você irá se adaptar. A pergunta certa é:

Como já podemos começar a agir?

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