Chegamos ao 5° artigo da série, que traz um apanhado das principais armadilhas que você, empreendedor – novato ou não -, irá encontrar pelo caminho árduo do mercado, moldado pelas suas ações, cenário e múltiplos fatores externos.
Esperamos que você possa aguçar seu olhar para fatores que vão influenciar dificultando mais ou menos a sua vitória em tornar uma grande ideia um projeto ativo ou um negócio de impacto. As crises são mais brandas para quem está mais preparado, obviamente.
Onde os empreendedores já foram feridos?
Conseguimos montar uma pesquisa qualitativa (*) e obter a resposta de 2 dezenas de empreendedores com diversas idades de empreendimento. Isso serviu para apoiar as observações do autor do cenário e de tudo já vivido. Esta foi a pergunta:
“Qual foi a maior dificuldade, armadilha ou situação que te surpreendeu ou atitude do mercado que marcou ou o incomodou profundamente como Gestor do seu negócio?”
Tivemos depoimentos de pessoas com os mais variados tempos de empreendimento, segmentos e setores da economia que moldaram cada resposta. Confira no gráfico a distribuição do tempo de empreendimento:
Com base no que foi dito o autor pode respaldar o que já vinha observando do cenário atual brasileiro – de norte ao sul – pautado por norteadores culturais peculiares, seculares e pontuais, já discutidos em outro artigo.
Sendo assim, acreditamos possuir insumo o bastante para poder formular uma lista – ainda que resumida, pois compilamos muitos problemas semelhantes em 1 item – pra você as…
Armadilhas Perigosas ao Empreender
#1: Estar indefeso para ameaças externas
Crise. Calote. Fornecedores desonestos. Sazonalidade. Mudanças repentinas de legislação.
Ouvir muitos empreendedores comentando sobre como a crise econômica foi como uma bomba nuclear nos seus negócios nos faz pensar que essa crise veio da noite para o dia. Será mesmo?
O medo do que aconteceria em 2015 fez com que a maior parte dos empresários do Brasil puxassem todos os freios de seus negócios. Foi como pausar um belo filme: ignoraram todo o bom trabalho feito por vários anos que não deveria ser tão frágil frente a uma possibilidade.
Tenho uma novidade: teremos fatores externos interferindo na sua gestão para sempre. Como se proteger? Como vocês puderam ver no último texto publicado pelo autor (já citado, acima), é necessário estar em permanente transformação.
Nossa crise não é questão de ausência de dinheiro. A tomada de consciência apenas começou, nossa crise é de Gestão. Mais do que nunca, precisamos capacitar nossas equipes e encontrar as nossas locomotivas de receita.
#2: Ignorar a volatilidade do mercado da era pós-digital
Já falamos sobre como os desdobramentos do empreendedorismo baseado em protecionismo e facilidades de coligações praticados de forma secular nos atrapalharam muito.
Esse tipo de mentalidade acredita estar sobre uma máquina de fazer dinheiro onde os clientes vêm até eles e têm a honra de comprar seus maravilhosos produtos. Extremismo? Ok. Porém, essa é a sensação que temos ao nos envolver com alguns prestadores de serviço ou vendedores de produtos problemáticos.
Volatilidade tem a ver com timing. Além de conhecer o cliente, precisamos entender e prever o que ele precisa e quando ele precisa. Quer um exemplo?
Se o mercado vem consumindo cada vez menos treinamentos tradicionais em sala de aula, um formato que demanda esforço pontual de vários profissionais, por que rechaçar o Ensino a Distância, que já vem sendo adotado sistematicamente?
Não seria um caminho óbvio para uma empresa que domine o conhecimento? O formato é apenas o veículo por onde passa o conhecimento. Mas não. Não é óbvio, necessita mente aberta e vontade de acompanhar os hábitos dos clientes.
As Tecnologias são fluidas. O Design é fluido. Os hábitos das pessoas são fluidos. Os formatos de consumo são moldados por eles, logo…
#3: Depender da promessa de terceiros
Na pesquisa tivemos um interessante denominador comum aos vários segmentos: se deparar com desonestidade ou falta de profissionalismo. Lembra-se do problema de Gestão que temos batido na tecla?
Já temos nossas dificuldades no dia-a-dia complexo da administração dos nossos negócios. Não permita que sua sobrevivência dependa do negócio de terceiros que você não conheça muito bem ou possa ao menos ter influência para que ele se mantenha na linha.
Especialmente ao imobilizar o capital em móveis ou equipamentos, é algo normal no Brasil se deparar com fornecedores que somem, atrasam, cometem erros ou, descaradamente, entregam algo diferente do prometido, propositalmente.
Faça o seu planejamento prevendo esses imprevistos, de forma que eles não ameacem todo o projeto. Sábio é o empreendedor que tem planos B com qualidade tão boa quanto os A.
#4: Empreender no feeling
Você sabia que o Bill Gates não vendeu seu MS-DOS por R$ 50.000 dólares (uma fortuna nos anos 70, época de incerteza nos EUA) à IBM, mas fez um acordo de receber um valor por cada máquina que fosse vendida com o sistema?
Bill não fez isso por uma intuição. Ele foi instruído por seu pai, advogado com visão administrativa esplêndida. Essa decisão simplesmente possibilitou a Bill realizar tudo que conhecemos hoje da Microsoft.
Conhecimento faz a diferença nas empresas. Faz a diferença para tirar ideias simples e geniais do papel. Como ganhar dinheiro? Como baratear custos? Como falar com mais pessoas? Como saber as perguntas certas a se fazer? Como saber os momentos certos para atuar?
Como as startups conseguem realizar tanto em tão pouco tempo? Sempre estão atreladas a ambientes de educação, à fartura de mentoria. Não investimos por intuição. Nosso feeling pode direcionar, mas nunca pode nos deixar cegos de que precisamos ganhar conhecimento.
#5: Excesso de foco na ferramenta ou produto
Essa armadilha é aquela com a qual o autor mais se deparou nos últimos anos. Vários clientes empreendem por necessidade e direcionam foco total a uma ferramenta que eles elegeram ser a solução para todo um cenário.
Muitos clientes entram no mundo do e-commerce de forma precipitada. Somos bombardeados todos os dias na internet por fórmulas mágicas para vender, super fáceis de configurar e no ar em dias. Precisamos desconfiar dessas promessas e entender que empreender no fogo da empolgação é dinheiro jogado fora.
Assista ao filme Joy – o nome do sucesso e perceba que, sintomaticamente, o sucesso é algo que custou muitíssimo à empresária que hoje é tomada como heroína. O filme deveria se chamar Joy – os fracassos levam ao sucesso.
Enquanto Joy manteve o foco apenas na excelente ideia que tinha, colheu derrotas atrás de derrotas, críticas atrás de críticas, inclusive da família.
Somente quando ela conseguiu um aliado que apostasse em sua ideia e permitisse que ela acessasse um caminho que mostrasse seus porquês, acabou figurando pessoalmente em uma mídia que tinha a seu lado o timing: milhares de pessoas querendo comprar soluções domésticas imediatamente.
E como Joy termina sua história? Dando oportunidade a ideias geniais de novos empreendedores e oferecendo investimento e Gestão em excelência em troca. Traga a sua ideia e eu viabilizarei os “comos”. Uma empresária milionária apoiando empreendedores.
Na realidade nua e crua do Brasil, é raro encontrar um investidor anjo assim. Portanto, planeje e preocupe-se em formular um produto/serviço com um conceito profundo e testado.
Bem, meu caro empreendedor, pensa que acabou? Não! Essas foram apenas parte das armadilhas notadas com respaldo da pesquisa. Viu algum item que não está aqui? Se deparou com um desafio épico? Conta pra gente e quem sabe ele não figurará na segunda parte deste texto?
(*) Sobre a pesquisa qualitativa
Para a produção deste artigo fomos obrigados a pesquisar sobre validação de pesquisa qualitativa. Há mais de uma concepção sobre essa validade. Uma parte dos estudiosos considera impossível mensurar dados subjetivos, outra considera possível, mas diverge sobre critérios que validam as mesmas.
Seguimos aqui os critérios de Fade (2003) para validar nossa pesquisa. Para dar credibilidade e autenticidade, o autor manteve os pedidos de respostas a outros empreendedores do seu networking e de cada um que se dispôs a pedir em seus círculos.
Obviamente, terá de ser aceito que fez-se de tudo para não contaminar as respostas com qualquer opinião ou direcionamento, apenas quanto ao objeto a ser coletado.
Para garantir a integridade, no formulário não foi pedida identificação, apenas, além da pergunta-chave, o tempo de empreendimento, já citado. E a pesquisa trata de assunto de domínio e objeto de estudo do autor.
Pilares deste artigo
Validade e Confiabilidade nas Pesquisas Qualitativas – Material do III Simtec – UNICAMP
(Villela, Campos, Trigueros e Rigoletto)
Clássicos de Kotler e Drucker
Site Lynda.com e seus vários cursos valorosos para empreendedores novatos e veteranos
A boa vontade de dezenas de empreendedores do networking do autor que desde já agradecemos por exporem suas dores com tanta boa vontade!