Nosso colunista convidado, Lucas Melo, continua lá no Texas acompanhando o South x SouthWest (SXSW). Ele assistiu à palestra de Danah Boyd, pesquisadora que estuda como os jovens se relacionam nas redes sociais e qual o futuro desta interação. As ideias dela são bem diferentes do que a gente costuma ouvir sobre adolescentes na internet.
A nova vida social da molecada
Danah Boyd é pesquisadora de cultura e tecnologia, e passou os últimos anos estudando redes sociais e o comportamento do jovem conectado. Ela trata de questões de privacidade, da construção da identidade, bullying e segurança, e acaba de juntar os resultados da sua pesquisa no livro “It’s Complicated: The Social Lives of Networked Teens”. Num esforço para popularizar o trabalho acadêmico, o livro tem em mente pais, professores e qualquer um de nós interessados no impacto da tecnologia na vida desses jovens. Dá pra baixar de graça, mas ela pede pra quem puder, compre, como um jeito de incentivar os estudos na área.
Na sua apresentação no South x Southwest, Danah fez um apanhado do seu histórico de pesquisa e partiu para reflexões sobre os novos serviços digitais e como eles se relacionam com o universo adolescente. Bem legal para ligar o mundo real, dos serviços que usamos com frequência, a essa discussão maior sobre o comportamento adolescente.
Snapchat, porque nem tudo é para sempre
Pelo aplicativo, você envia fotos e vídeos e determina quantos segundos a pessoa vai ter para olhar o arquivo, antes que ele seja apagado automaticamente. Hoje se discute pornografia e privacidade, mas Danah acredita que essas preocupações não são do universo jovem.
Para ela, o lance é a persistência. O que chamou atenção dos adolescentes foi a chance de fazer algumas coisas não durarem pra sempre. Assim, as piadas, poses e dancinhas não precisam ser definitivas, e aí não dá tanto medo de errar.
Outro ponto diz respeito à atenção. Se você manda uma mensagem direcionada para alguém que só vai ter seis segundos para ver, você sabe que tem sua total atenção durante esse tempo. Diferente de um fluxo de conteúdo, como no Twitter, onde o que você diz pode passar despercebido, e próximo do conceito de uma transmissão ao vivo.
Todos somos editores
A cultura da imagem é uma realidade e, graças aos aplicativos de edição de fotos e vídeos, mais pessoas têm a possibilidade de brincar com o conteúdo, adaptar, associar, remixar. Se antes o mais fácil era repostar o que encontrou na internet, hoje o adolescente toma propriedade dos conteúdos que compartilha, seja com títulos em cima da foto, colagens de imagens ou vídeos personalizados.
Instagram e a cultura dos selfies
Quem nunca? As redes sociais são o grande lugar da vida pública adolescente (e não só deles!), um refúgio ao mundo do “tudo é perigoso” e do “nada pode”. Para a pesquisadora, a avalanche de selfies tem a ver com a necessidade de marcar um espaço nesse ambiente online e criar uma identidade; mais do que postar a foto de um lugar, é dizer “esse sou eu e tô aqui”. Participar desse ambiente é se expor, ver e ser visto, e conseguir criar laços de pertencimento com alguma comunidade.
Há alguns meses, a gente aqui do Digaí conversou com especialistas aqui do Brasil sobre o que os adolescentes gostam de fazer nas redes sociais e a força deste público na internet. Dá para ver esse post aqui.
Mas diga aí, essa história não tem tudo a ver com os rolezinhos, um dos jeitos de trazer essa vida online para o analógico?
Lucas Melo
É astronauta amador. Ele alimenta a vontade de explorar e descobrir algo novo desde os tempos do Mundo de Beakman. É criador de vídeos e atualmente descarrega essa curiosidade no canal Ideias Épicas.