Lembro como se fosse hoje quando abri minha conta no Orkut, lá pelos anos de 2004-2005. Visualmente era muito mais atraente do que o MSN, ICQ, BBS e as salas bate-papo dos provedores. Aliás, nem sem comparava. Encontrava velhos amigos e parentes desconhecidos, fazia novas amizades, postava o que achava legal no mural, participava ativamente das comunidades… Tudo em uma interface bastante amigável.

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Porém, para mim, durou pouco. Em dezembro de 2005, apaguei o meu perfil original porque tive problemas de relacionamento. Verdade seja dita: a falta de privacidade no começo do Orkut nos colocava em cada situação…!!! Parar de acompanhar mesmo, não parei. Continuei observando as mudanças através de um fake – atire a primeira pedra aquele que nunca teve um! E vi o quanto as pessoas se expuseram ao escreverem besteiróis, com erros crassos de português, tornarem-se spammers e postarem fotos banais, sexuais e de violência, além de brigarem por causa de religião, futebol e opção sexual.

 

Um amigo evangélico me disse certa vez: “É o apocalipse”. De fato, era o fim, não do mundo, mas daquela plataforma de rede social. Era um cenário apocalíptico, reforçado pelos danados dos gifs animados. Fala sério! Ninguém merece um bando de luzinhas piscando na tela, algumas emoldurando mensagens longas que mais pareciam correntes de e-mail.

 

 

Outro amigo me falou: “O problema é que se popularizou demais com a entrada da Classe C, que se comporta como favelada no Orkut”. Comentário bastante preconceituoso, no entanto tive que respeitar. Fazia e ainda faço parte da Classe C e tenho hábitos bem diferentes daqueles pré-concebidos por ele. Só que a visão desse cidadão talvez tenha sido compartilhada por muitos outros membros das classes A e B brasileiras, que migraram ainda em meados da década de 2000 para o Facebook e para o Twitter.

 

Em 2009, por exemplo, de acordo com pesquisa do Instituto Data Popular, as classes A e B representavam 64% dos perfis do Facebook, 81%, do Twitter, e 34%, do Orkut. Já os perfis da Classe C eram 32% no Facebook, 18% no Twitter e 50% no Orkut. Ao final daquela década (2008), com o lançamento da versão em português da plataforma de Mark Zuckerberg, a Classe C também começou a migrar para Facebook. Em 2011, foi a vez de o Twitter disponibilizar seu conteúdo no idioma local.

 

Em 2012, a Classe C já era maioria absoluta nessas três plataformas. Passou a ser 56% no Facebook, 55% no Twitter e 57% no Orkut. As classes A e B sofreram acentuada redução no percentual do Facebook e do Twitter: 24%, em ambos. No Orkut, eram, no ano passado, 23%. Nada mais do que o reflexo das divisões socioeconômicas do País, conforme aponta a reportagem do portal IG, intitulada: “Classe C se torna maioria no Facebook e no Twitter, diz Data Popular”. A população brasileira é composta por 53% de pessoas da Classe C, 27% da Classe DE e 20% da Classe AB.

 

Coincidência – ou não -, depois dessa ascensão da Classe C no Facebook, muitos dos comportamentos que estragaram o Orkut começaram ser reproduzidos no “Face”, como intimamente passou a ser chamado pelos populares. São inúmeros spams, como convites para aplicativos, jogos e eventos. Há um bando de gente desconhecida solicitando amizade. Diariamente surgem nos murais fotos violentas, sexuais ou com links para vírus. Nossos nomes são adicionados às fotos e, quando feita por fanpages, sequer temos opção de deixar de acompanhar os comentários. É tanta discussão por causa de sexualidade. E mais uma vez, a superexposição do povo, que compartilha qualquer intimidade. “Vou tomar banho”; “Odeio Fulano de Tal”; “Estou cansado e vou dormir”. Só falta agora Zuckerberg liberar o uso de gifs animados. Seria o fim da picada!

 

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E quando uso a palavra “coincidência” é porque conheço muita gente da elite que se comporta desse jeito. E não só no Facebook. No Twitter, ricos, famosos e políticos, verdadeiros formadores de opinião que deveriam dar o exemplo para a sociedade, também transformam a mídia social em um palco de horrores. Pense numa baixaria!

 

A última a polemizar no Twitter foi a atriz Luana Piovani, que disparou caracteres feito uma metralhadora contra os políticos: “Dilma, Lula, Ge­noíno, Feliciano, Bolsonaro, Dirceu, corja­aaaaaaa!!!! Está pouca a tragédia por aqui? Hoje está chovendo, vamos ver quantas bar­ragens cairão”. Acabou lendo o que não queria: “Atriz e usuária de drogas, Luana Piovani ofende Carlos Bolsonaro gra­tuitamente com palavras sem sentido algum”, alfinetou o deputado Flávio Bolsonaro. “Eu sou a porra que eu quiser, seu otário. Você é um sem-vergonha. Cada um é o que quer. Imbecil retrógrado”, rebatou a global, baixando, em muito, o nível.

 

 

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O pensamento agora de algumas pessoas é adotar o Google+ como plataforma preferida para fugir à orkutização do Facebook. O movimento é silencioso e vagaroso, mas deverá aumentar ainda este ano, principalmente com a importância dessa mídia social para o SEO dos sites. Eu permaneço usando mais o Facebook, com filtros de privacidade, mas aos poucos também migrarei silenciosamente. Agora é sua vez de opinar. Também acha que o Facebook está virando o Orkut? Já usa ou pretende utilizar o Google+ neste ano?

 

 

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